PURIFICAÇÃO – SAUCHA

PURIFICAÇÃO – SAUCHA

Dentre os cinco niyamas ou preceitos, encontramos purificação, saucha. Um conjunto de técnicas de limpeza do corpo e da mente que promovem desintoxicação.
Os kriyas, processos de limpeza, não são apresentados nos Sutras de Patanjali (sistematização do yoga), e sim no Gheranda Samhita (escritura que descreve uma quantidade significativa de técnicas de purificação ou kriyas). Dentre as técnicas de purificação mais acessíveis à prática, encontramos:
KapalabhatiKapala (crânio) e bhati (brilhante); portanto significa exercício que faz o crânio brilhar. Apesar de ser um exercício respiratório, classifica-se entre os kriyas por sua profunda atuação no cérebro, pulmões e sistema nervoso.
Jala neti – Exercício de limpeza das vias respiratórias superiores (com água preparada ou soro fisiológico).
Trataka (fixar a visão num objeto até os olhos lacrimejarem).
E uma coisa boa conduz a outra, num ciclo virtuoso. A sua prática de asanas (exercícios psicofísicos), kriyas, pranayama, yoganidra (ciência do relaxamento) e meditação, te conduzem naturalmente a ser mais seletivo (a) com a alimentação, com os pensamentos, com a forma de lidar com o ambiente onde vive, com as companhias, com as palavras.

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Tudo no sistema de hatha yoga proporciona essa limpeza tanto do físico, quanto do sutil, pensamentos, sentimentos e emoções. Tanto em relação à higiene, a estética, quanto com o que ouve ou assisti etc. Não somente lapidando o gosto, mas o discernimento. Fazendo bom proveito de tudo com equilíbrio, para sua edificação e bem estar. Desvencilhando-se dos empecilhos ao seu desenvolvimento no yoga e na vida.

ESCRITURAS – SHASTRAS

ESCRITURAS – SHASTRAS

A obra fundamental do sistema filosófico do yoga, foi a de Patanjali, composta em um período incerto situado entre os séculos IV a.C e V d.C.

Patanjali sistematizou o yoga através dos sutras ou aforismos. Sutra significa fio, estando numa sequência ordenada de pequenas frases com amplo e profundo sentido, como que em uma guirlanda na qual o fio sustenta a sequência precisa das flores. Ele sugere uma prática descrita numa metodologia de oito etapas, que  ficou  conhecida como ashtanga yoga ou yoga de oito (asta) partes (anga). Estas partes são as seguintes:

1- Aprender a viver em harmonia com os outros (yamas);

2- Manter o corpo, a mente e o espírito saudáveis e felizes (niyamas);

3- Praticar posturas psicofísicas para fortalecer o corpo (asanas);

4- Respirar corretamente para fazer fluir a energia (pranayama);

5- Concentrar nossas forças mentais no interior do ser (pratyahara);

6- Focalizar toda a atenção em determinado objeto (dharana);

7- Repousar em meditação profunda e natural (dhyana);

8- Equanimidade, transconsciência (samadhi).

Outras escrituras (shastras) diretamente relacionadas ao hatha yoga são:

Hatha Yoga Pradipika – escrito por Svatmarama em uma época imprecisa situada entre os séculos XIV e XVI. O sistema de Svatmarama ficou conhecido como caturanga yoga, significando “sistema de quatro partes”, que são:

asanas (posturas);

pranayama (controle do alento);

mudras – gestos simbólicos feitos com as mãos, posturas e pressões em pontos sensíveis do organismo. Incluindo  bandhas, que significa literalmente um nó, e é aplicada a variadas contrações e relaxamentos musculares com vista a influenciar os sistemas nervoso, vascular e glandular.

nadanusandhana (absorção nos sons internos).

Gheranda Samhita – escrito por Gheranda provavelmente entre os séculos XVII e XVIII. Descreve uma quantidade significativa de técnicas de purificação ou kriyas. O sistema de Gheranda é conhecido como saptanga yoga, ou o sistema de sete partes, sendo elas:

satkarma ou kriyas (técnicas purificatórias);

asanas (posturas);

mudras (técnicas acessórias, travas);

pratyahara (abstração dos sentidos);

pranayama (controle do alento);

dhyana (meditação);

samadhi (equanimidade, transconsciência).

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Sendo o objetivo dessas escrituras nos concederem autoconhecimento, logo, livros de outras culturas sobre o mesmo assunto podem ser úteis ao praticante de hatha yoga. Sempre vale a pena a pesquisa e o aprendizado, utilizando o discernimento (viveka) e cultivando o autoestudo.

Namastê!

Silvia Oliveira

AUTOESTUDO – SVADHYAYA

AUTOESTUDO – SVADHYAYA

Durante os asanas (posturas psicofísicas), pranayama (controle da energia vital através de exercícios respiratórios), meditação e relaxamento, o praticante de yoga realiza um autoestudo que, em sânscrito, chama-se svadhyaya. O svadhyaya, que também significa recolher, relembrar, meditar sobre si mesmo, é um dos cinco niyamas (ou preceitos) do hatha yoga.

E o que vem a ser, exatamente? Consiste na auto-observação, não só na prática de yoga como na vida. O ideal é incrementar esta vivência com o estudo das escrituras (shastras), tendo como chave interpretativa viveka, ou discernimento. Isso quer dizer não aceitar com fé cega tudo que você lê ou ouve, seguir ensinamentos sem verificar como coincide com o seu eu interior, pois isso é o verdadeiro autoestudo: entender a sua verdade.

Por isso é importante estudar os ensinamentos dos mestres e sábios, não somente receber como um resumo de intermediários. Só assim você poderá identificar se as informações ouvidas realmente tem coerência com o que foi ensinado pelos mestres. Ou seja, esse estudo precisa ser desenvolvido em você, e, acima de tudo, deve ser vivido. Como em outras áreas da vida, é preciso autodisciplina para reservar tempo de qualidade para essas leituras, sem tratá-las como uma espécie de horóscopo ou caixinha de mensagens positivas.

Autoconhecimento ou interiorização não é algo misterioso nem precisa estar ligado à religiosidade; afinal, não há nada de místico em conhecer a si mesmo, na verdade é o primeiro passo para efetuar mudanças duradouras e consistentes em sua vida. Sem conhecimento, não há avanço.

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Svadhyaya permite que você não fique iludido, priorizando o que é secundário. E também que você se revise constantemente. Estou aberto aos ensinamentos, sou uma pessoa ensinável? Ou me fecho no conhecido e só aceito o que interessa ao meu ego?

Conseguir trilhar esse caminho do meio é algo exigente, mas traz alegria, contentamento e autoconhecimento. Assim podemos ser pessoas melhores onde estivermos.

Namastê!

Silvia Oliveira

 

AUTODISCIPLINA – TAPAS

AUTODISCIPLINA – TAPAS

No hatha yoga, dentre os cinco preceitos, niyamas, temos a autodisciplina, tapas, palavra em sânscrito que pode ser traduzida como autoesforço ou austeridade. Iyengar, em A Luz da Ioga, define-a assim: um esforço ardente sob quaisquer circunstâncias para a consecução de um objetivo bem definido na vida”.

Manter a consciência na prática no yoga exige a aplicação de tapas. Enquanto você realiza sua prática de hatha yoga, assimila essa autodisciplina, incorporando-a no seu dia a dia.

INCORPORE A AÇÃO AUTODISCIPLINADA PARA ENFRENTAR OS DESAFIOS DA VIDA

Esse condicionamento positivo pode facilitar suas respostas frente aos desafios da vida. E dar forças para você fazer o que é preciso ser feito. Sem negligências. Tendo coragem para admitir em que precisa melhorar e dar passos concretos nessa direção. Você consegue visualizar como pode ter um grande desenvolvimento em todas as áreas, se vivenciar tapas? Que, ao invés de algo cansativo, pode ser libertador?

Provavelmente o que passa na sua mente quando você ouve a palavra autodisciplina é algo chato, cheio de regras e exigências. Ou então algo que você consegue ter às vezes, mas não sempre. Você pode alegar que acorda cedo, trabalha e/ou estuda muito, assume muitos afazeres com a casa, família, filhos etc. e que é difícil dar conta de tudo. Pode dizer ainda que, apesar da preguiça que sente, realiza muitas coisas no seu dia. Encarar a si mesmo com franqueza é difícil, porque exige acabar com todas as desculpas que dizemos para nós mesmos.

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COMO COMEÇAR A MUDAR: PARTA DO POSSÍVEL

Existe o ideal e existe o possível. Primeiro, tente notar se você é indisciplinado, preguiçoso ou pouco motivado. São coisas diferentes! Depois, procure perceber a diferença nos resultados quando você se esforça em fazer o que é necessário e importante primeiro, adiando as atividades mais prazerosas. Percebe como tem mais sucesso?

Uma dica é começar com uma mudança de cada vez, e, de preferência, pequena. Se quiser mudar tudo ao mesmo tempo, vai gerar frustração e acabará não chegando a lugar algum. Assim, em vez de recorrer ao julgamento, substitua hábitos, pensamentos e sentimentos nocivos por outros melhores – como por exemplo a reclamação pelo contentamento a agitação externa pela sabedoria da vibração interna etc.

Namastê!

Silvia Oliveira

CONTENTAMENTO (SANTOSHA)

CONTENTAMENTO (SANTOSHA)

Os cinco niyamas são instrumentos poderosos que podem ser utilizados para manter o corpo, a mente e o espírito saudáveis e felizes.

Dentre elestemos santosha que significa “contentamento”. À primeira vista, ele nos parece algo de difícil aplicação, principalmente se levarmos em conta que vivemos em um contexto social, cultural e histórico que cultiva uma eterna insatisfação. Como diz a canção do The Rolling Stones, “Satisfaction”, o eu lírico não consegue se satisfazer. A satisfação parece um bem-estar inalcançável.

Estamos submetidos a um verdadeiro bombardeio de convites, de apelos e até mesmo de imposições que prometem nos trazer satisfação inesgotável.

Tudo em vão. Na verdade, a insatisfação só aumenta no meio de tudo isso. Como satisfazer a sede do insaciável? A mídia incentiva você a consumir mais e mais, o mais atual, o mais avançado, a tecnologia mais revolucionária, o “0 km”. Enquanto isso, o planeta fica insustentável. Não somente o habitat do ser humano (a natureza, a ecologia, as rodovias, os rios etc.) se deteriora, mas também o nosso universo interno, viciado na insatisfação eterna, preso na armadilha de acreditar que podemos completar com bens materiais a alma, o coração, a psique.

Ainda discorrendo sobre o conceito do contentamento, é sempre bom perguntar “que adianta conquistar tantos bens materiais se, para comprá-los, nós perdemos a paz de espírito?”. É exatamente aí que entra o conceito do contentamento (santosha), que serve como uma chave para que possamos ter sucesso verdadeiro em todas as áreas, e o valor do yoga.

Em todas as etapas de seu sistema, o yoga proporciona formas de praticar esse contentamento. Quando propõe a auto-observação, ajuda o praticante a identificar o quanto está ou não satisfeito com o momento presente. É o primeiro passo para a mudança: identificar como estamos. Tente, por exemplo, ficar em silêncio. Nesse exercício, você vai perceber se sua mente está em ruído constante, perturbada, inquieta e insatisfeita demais. É como encontrar um “termostato interno” que serve para alertá-lo sobre o grau de conturbação interior.

No processo contemplativo tão próprio da meditação, aprendemos a reconhecer e aceitar a nossa realidade interna, a deixá-la conviver com a realidade externa de modo que diminua a insistência da mente em se deixar escravizar por desejos, expectativas e ansiedades que são estimulados de fora para dentro. Silenciar internamente é um grande desafio. Para começar, você pode dar um comando de paz a essas inquietações, iniciando e treinando esse autocontrole.

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Não que o aprendizado seja fácil, nem rápido. O “ego” é insaciável; quer tudo para si. Contrariamente a isso, e com a devida boa vontade, exercitando-se a segurar a vontade invertida, qualquer pessoa pode treinar e progredir. Disso brota o propósito do servir; um servir desinteressado, verdadeiramente altruísta, que pode ser praticado de inúmeras formas a começar pelas mais corriqueiras, como abrir mão de maus pensamentos, de criticar (mesmo que “apenas” mentalmente), de reclamar, de querer que os outros façam algo por você (seja o governo, a sociedade, os pais, os professores, os amigos). Em vez de demandar que sirvam você, você pode, pela força do seu silêncio interior, entender o sentido profundo que existe em dar o primeiro passo para ajudar, tendo em mente tudo o que você pode fazer por seu país, no seu lar, no ambiente de trabalho, na escola, em você mesmo.

Finalmente, surge o contentamento. Praticar e vivenciar o yoga, filosofia prática de vida, abre uma perspectiva universal de harmonia. Por meio do yoga, aprendemos a conviver com o melhor de nós mesmos, com nossa família, com nossos amigos, e a respeitar aqueles que ainda não conhecemos. Somos assim mais saudáveis e felizes, mais propensos ao contentamento sem comodismo ou conformismo.

Namastê!

Silvia Oliveira

 

A Sabedoria da Vibração Interna X Agitação Externa

A Sabedoria da Vibração Interna X Agitação Externa

Essencialmente, nossa vibração energética interna é pura harmonia. Porém, ao negar, omitir ou deturpar a realidade, vamos contra o nosso ser, caindo no vazio (patologia), como nos esclarece o livro Metafísica Trilógica – A Libertação do Ser, de Norberto Keppe.

Modernamente, de tal modo temos nos afastado  dessa essência, que mal podemos ouvir sua voz clamando por liberdade. Então, como retornar ao nosso eu original e desfrutar de uma vida plena e feliz para a qual fomos criados?

Antes de mais nada é preciso perceber que geralmente “soltamos” nossas condutas prejudiciais, a nós mesmos e aos outros, enquanto censuramos fortemente perceber esse fato. Assim sendo, temos de fazer o caminho oposto: libertar a consciência e segurar o comportamento errôneo, como condição fundamental para conservar ou recuperar a saúde.

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Conforme indiquei na postagem passada, vem como passo inicial o reconhecimento humilde dos nossos próprios erros, tendências e intenções. Tal consciência surge depois que “brecamos” nossa vontade invertida, impedindo-nos de fazer coisas destrutivas para nós e para nossos semelhantes.

Em seguida apontei como caminho conjugado, a meditação, que, no Hatha Yoga, costuma vir depois de um preparo feito através de exercícios psicofísicos e respiratórios, que envolvem também o relaxamento.

yoga propõe a auto-observação e reconhecimento da consciência do corpo, da mente e da respiração. Podemos entender que a psique está envolvida em todos esses processos, sejam internos (autoconhecimento), sejam externos (realidade e influências externas), sejam inter-relacionais (relacionamento com os demais e com Deus).

Por isso, quando pensamos no entendimento dos mecanismos da psique e a colocamos como lupa para decifrar os comportamentos patológicos, poderemos entender melhor as causas dessa “atitude apressada”, de disputa, competitividade e desrespeito que podemos observar em muitos momentos de nosso cotidiano, da qual falei na postagem passada.

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É bom ver que temos de estar atentos a nossa responsabilidade em resgatar um interior vibrante, cheio de vida e realizações. Trata-se de um resgate e não de uma conquista, pois essencialmente já somos assim. Em grande parte depende mais de aceitar, reconhecer o bem que já possuímos, e parar de atacar e / ou estragá-lo.

É fundamental nesse processo procurar realizar sempre uma ação boa, bela e verdadeira (de ajuda aos semelhantes), como afirma Norberto Keppe.. A ação boa tem essa capacidade de trazer à tona o verdadeiro ser de cada um de nós. Atividades que beneficiem não somente a si próprio, mas principalmente aos demais.

“O ser em si é basicamente o amor, e só se torna inteligível através dele; posso mesmo afirmar que não se trata de agir por afeto, mas que a verdadeira ação por si mesma é o amor – pessoa alguma poderá realmente existir senão pelo amor.”                                                                         (Norberto Keppe

No texto da postagem passada, “Sabedorias da Lentidão”, constatei que podemos perceber que a realidade que nos cerca vem construindo seres desconexos e estressados e estes, por sua vez, formam uma sociedade apressada e doente. E propus o yoga e suas práticas meditativas como um excelente meio para harmonizar a rapidez, que é uma virtude, com as sabedorias da lentidão.

Dr. Keppe em seu livro Metafísica Trilógica – A Libertação do Ser, já citado, nos mostra que essa sabedoria precisa estar imbuída de energética, vibração interna (positiva por natureza) que decorre da ação boa. A sociedade segue valores invertidos, que conduzem as pessoas a pensarem que a realização bem sucedida decorre de fatores externos. Como se a agitação externa, a correria, a atitude apressada é que permitisse o sucesso. E não que o externo saudável, próspero e equilibrado depende dessa vibração interna que possui uma sabedoria intrínseca. Sendo necessário conscientizar as patologias psíquicas pessoais e sociais para que o “ser” possa desabrochar.

     “A ação pura é o ato primeiro que faz toda a perfeição essencial se   manisfestar”

(Norberto Keppe)

                                                                                                         

Concluindo, no processo de autoconhecimento que o Hatha Yoga propõe, em todos os seus aspectos e etapas, a prática, a vivência, isto é, a ação vem em primeiro lugar. Sejam os aspectos subjetivos (como meditação, mentalização etc.) ou objetivos (como exercícios físicos, respiratórios etc.). Consequentemente vem a consciência do corpo, da mente e da respiração. Alcançando beneficamente a psique e o espírito.

A prática desse sistema é potencializada com a interiorização dos saberes comentados nesse breve texto, com o reconhecimento de que o menor não pode produzir o maior, os sentidos não podem produzir pensamentos e a agitação externa não pode fornecer bons resultados.

Referências bibliográficas:

PACHECO, Claudia Bernhardt de Souza. De olho na saúde – O ABC da psicossomática trilógica. 1. ed. São Paulo : Proton Editora, 2007. p. 21, 67, 68

KEPPE, Norberto R. Metafísica Trilógica – A libertação do Ser. 2. Ed. São Paulo : Proton Editora, 1999. p. 18, 130, 13

SABEDORIAS DA LENTIDÃO

SABEDORIAS DA LENTIDÃO

“Inteligente é quem outros conhece,

Sapiente é quem conhece a si mesmo.

Forte é quem outros vence,

Poderoso é quem domina a si próprio.”

(Lao Tsé).

Inicialmente, podemos observar no cotidiano da grande maioria das pessoas que vivem nas grandes cidades, a tendência de fazer muitas coisas ao mesmo tempo e fazê-las de forma acelerada. Com a tecnologia da comunicação instantânea e virtual, cultiva-se a pressa.

Muitas vezes nos encontramos em situações que demandam rapidez, porém nos enganamos ao acreditar que para algo ser bem feito, temos de estar acelerados e tensos internamente. Essa se tornou uma cultura nos tempos modernos e exige de nós consciência. Esse modo de fazer as coisas é uma deformação. Tornada um hábito, ela adoece a todos cada vez mais.

O yoga propõe a atenção ao momento presente e a conquista gradual do autoconhecimento do corpo, respiração, mente e espírito.  O que se traduz em respeito aos próprios limites e também aos limites do próximo. No hatha yoga notamos o ensino e cultivo desses conhecimentos em vários aspectos, como, por exemplo, durante os asanas (posições de yoga), pelos quais praticamos a permanência:

– na posição em si;

– na atitude de presença (estar por inteiro no aqui e agora);

– no respeito aos próprios limites, levando em consideração a sua história corporal, sem comparar-se com outros;

– na consciência da respiração etc.

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Devemos estar atentos ao nosso modo de encarar a nossa vida e consequentemente a prática de yoga. Se nos deixamos impregnar pela cultura da “correria”, vendo vantagem em ser apressado, podemos trazer esses valores para todos os âmbitos da vida. E isso sem nos dar conta, quando menos esperamos.

Se olharmos à nossa volta, vamos enxergar essa “atitude apressada”, de disputa, competitividade e desrespeito em muitos momentos. No trânsito, no relacionamento com os demais no ambiente familiar, profissional, escolar etc. Na verdade, é bem fácil notar esses comportamentos na vida social, fora de nós.

Se prestarmos mais atenção, veremos que nós mesmos agimos de acordo com o padrão da pressa. E como podemos tomar consciência dessas atitudes e agir de maneira mais saudável? As mudanças, para serem efetivas precisam começar individual e internamente.

O primeiro passo é reconhecer os próprios erros, as suas tendências e intenções. Depois, é preciso “brecar” a vontade invertida. Um caminho é a meditação, que, no hatha yoga, costuma vir depois de um preparo feito através de exercícios psicofísicos e respiratórios, que envolvem também o relaxamento. Ao meditar, o praticante procura um espaço entre os pensamentos, faz um esforço para não conversar com eles. Desse modo, evita que os pensamentos ganhem volume e, por assim dizer, tomem conta da cena interior. Dar atenção a uma coisa por vez exige esforço, assim como todas as atitudes que podem trazer benefícios. Não se iluda: fazer o bem (para si e o próximo) não flui naturalmente. É necessário esforçar-se.

O treino ajuda muito. É possível treinar maneiras de se concentrar em uma atividade por vez, desfazendo o excesso de tensão interna. No processo de autoconhecimento, a consciência vem primeiro. Em seguida, vem a força de vontade. Na prática, o yoga oferece instrumentos que nos ajudam nesse desafio.

Namastê!

Silvia Oliveira