CONTENTAMENTO (SANTOSHA)

CONTENTAMENTO (SANTOSHA)

Os cinco niyamas são instrumentos poderosos que podem ser utilizados para manter o corpo, a mente e o espírito saudáveis e felizes.

Dentre elestemos santosha que significa “contentamento”. À primeira vista, ele nos parece algo de difícil aplicação, principalmente se levarmos em conta que vivemos em um contexto social, cultural e histórico que cultiva uma eterna insatisfação. Como diz a canção do The Rolling Stones, “Satisfaction”, o eu lírico não consegue se satisfazer. A satisfação parece um bem-estar inalcançável.

Estamos submetidos a um verdadeiro bombardeio de convites, de apelos e até mesmo de imposições que prometem nos trazer satisfação inesgotável.

Tudo em vão. Na verdade, a insatisfação só aumenta no meio de tudo isso. Como satisfazer a sede do insaciável? A mídia incentiva você a consumir mais e mais, o mais atual, o mais avançado, a tecnologia mais revolucionária, o “0 km”. Enquanto isso, o planeta fica insustentável. Não somente o habitat do ser humano (a natureza, a ecologia, as rodovias, os rios etc.) se deteriora, mas também o nosso universo interno, viciado na insatisfação eterna, preso na armadilha de acreditar que podemos completar com bens materiais a alma, o coração, a psique.

Ainda discorrendo sobre o conceito do contentamento, é sempre bom perguntar “que adianta conquistar tantos bens materiais se, para comprá-los, nós perdemos a paz de espírito?”. É exatamente aí que entra o conceito do contentamento (santosha), que serve como uma chave para que possamos ter sucesso verdadeiro em todas as áreas, e o valor do yoga.

Em todas as etapas de seu sistema, o yoga proporciona formas de praticar esse contentamento. Quando propõe a auto-observação, ajuda o praticante a identificar o quanto está ou não satisfeito com o momento presente. É o primeiro passo para a mudança: identificar como estamos. Tente, por exemplo, ficar em silêncio. Nesse exercício, você vai perceber se sua mente está em ruído constante, perturbada, inquieta e insatisfeita demais. É como encontrar um “termostato interno” que serve para alertá-lo sobre o grau de conturbação interior.

No processo contemplativo tão próprio da meditação, aprendemos a reconhecer e aceitar a nossa realidade interna, a deixá-la conviver com a realidade externa de modo que diminua a insistência da mente em se deixar escravizar por desejos, expectativas e ansiedades que são estimulados de fora para dentro. Silenciar internamente é um grande desafio. Para começar, você pode dar um comando de paz a essas inquietações, iniciando e treinando esse autocontrole.

atitude

Não que o aprendizado seja fácil, nem rápido. O “ego” é insaciável; quer tudo para si. Contrariamente a isso, e com a devida boa vontade, exercitando-se a segurar a vontade invertida, qualquer pessoa pode treinar e progredir. Disso brota o propósito do servir; um servir desinteressado, verdadeiramente altruísta, que pode ser praticado de inúmeras formas a começar pelas mais corriqueiras, como abrir mão de maus pensamentos, de criticar (mesmo que “apenas” mentalmente), de reclamar, de querer que os outros façam algo por você (seja o governo, a sociedade, os pais, os professores, os amigos). Em vez de demandar que sirvam você, você pode, pela força do seu silêncio interior, entender o sentido profundo que existe em dar o primeiro passo para ajudar, tendo em mente tudo o que você pode fazer por seu país, no seu lar, no ambiente de trabalho, na escola, em você mesmo.

Finalmente, surge o contentamento. Praticar e vivenciar o yoga, filosofia prática de vida, abre uma perspectiva universal de harmonia. Por meio do yoga, aprendemos a conviver com o melhor de nós mesmos, com nossa família, com nossos amigos, e a respeitar aqueles que ainda não conhecemos. Somos assim mais saudáveis e felizes, mais propensos ao contentamento sem comodismo ou conformismo.

Namastê!

Silvia Oliveira